Alma de criança

Ela contava que antigamente quando acontecia um aborto, o feto era jogado fora como se fosse um papel de bala. Às vezes as mulheres não queriam engravidar e matavam o feto, às vezes o enterravam em qualquer lugar.

Certo dia a minha tia estava passando perto de uma árvore e ouviu um choro de bebê, correu para ver e não havia nada. No outro dia a mesma coisa. Chegando em casa contou à minha bisa, na hora ela não acreditou. Mais tarde ela foi até o local ver se via algo, ouviu o choro, mas não acreditou, achou que era uma onça, pois a onça imita o choro de criança. Se aproximou aos poucos perto do local e avistou uma criança pálida, recém nascida, ensangüentada e bem magrinha. Quando ela foi pegar a criança, ela desapareceu. Minha bisavó correu pra casa, na hora minha tia perguntou a ela o que tinha acontecido, por que estava tão assustada. Ela quase sem ar só disse que precisava de uma vela e um terço.

No final da tarde voltou para casa, mais calma e já recuperada. Minha tia perguntou a ela: “Fala mãe, o que foi que aconteceu?” . Ela respondeu: “Nada não filha.” Com uma cara que estava escondendo alguma coisa. Minha tia que era esperta já imaginava o que tinha acontecido e já foi dizendo: “Aaah... já sei, eu sabia! Viu, não acreditou em mim, eu disse que era verdade.”

Minha bisavó contava que às vezes a alma da gente não vai para o outro lado, por ter acontecido algo de ruim como o aborto, assassinato, morte violenta, ou talvez por que a pessoa que morreu não quer ir embora, ela contava também que as pessoas às vezes não sabem que estão mortas.

Aqui na minha região acontece muito acidente de carro, as pessoas que moram próximo à estrada sempre escutam barulho de carro batendo, e quando vão ver não tem nada. Às vezes algumas pessoas vêem o vulto dos carros passando.